quinta-feira, 23 de julho de 2009

Etecetera das madrugadas

Como tudo pode num sonho
sonhei que subiu as escadas do meu prédio
ficou na sala me esperando dormir e nunca mais saiu.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Berra, berra teu amor, Hilda!

Prelúdios-intensos para os desmemoriados do amor

Hilda Hist

I

Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

II

Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.

Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.

Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.
(...)

Já é se for sendo

"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."

Guimarães Rosa - Grande Sertão Veredas(1956)

Divido o segredo com Clarice

O meu segredo

Algo está sempre por acontecer.
O imprevisto improvisado e fatal me fascina.
Já entrei contigo em comunicação tão forte que deixei de existir sendo.
Você tornou-se um eu.
É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas.
É tão silencioso.
Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois?
Dificílimo contar: olhei para você fixamente por uns instantes.
Tais momentos são o meu segredo.
Houve o que se chama de comunhão perfeita.
Eu chamo isto de estado agudo de felicidade.

(Clarice Lispector)

Companhia : Rodrigo




Novidade estranha
novidade sem cartaz pra solidão
sem a disposição melancólica
novidade de existir
dizer o que quer
comer o que pedir
comer você
e no líquido ovular
para gerar
congelar
para em todas as minhas melhores épocas
parir você e sentir o cheiro que lhe é peculiar
novas dores e dedos entre fios que tecem a espera e
anulam a angústia ao
ler Hilda e Clarice
oxigeno o desejo
repito o beijo
desfruto
respiro e
gozo
enquanto for pra tanta novidade